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Começando pelas oito jocosas novelas de tradição oral em vulgar, reunidas por compilador anônimo no Novellino ao longo dos séculos séculos XIII e XIV, ou seja, do fim da Idade Média ao começo da Renascença, o panorama que a presente coletânea nos apresenta chega aos três contos-surpresa de Giovanni Boccaccio (1313-1375), o famoso autor do Decameron, que vão do ousado ao refinado. Seu continuador, Franco Sacchetti (1332-1400) nos entretém com três de suas novelas hílares, entre as quais há uma em que Dante dialoga com um ferreiro que estropiou seus versos. Uma peça complexa e sutil, apresentada aqui,  é “A novela do Gordo marceneiro” de Antonio Manetti (1423-1497). Chegamos, com nada menos do que o florentino Niccolò Machiavelli  (1460-1527), ao final do século XV, quando a restrição da expansão econômica permitiu aos mecenas se dedicarem com mais tempo e lazer a outros interesses que não os comerciais. Admirador de Cesare Borgia, é inimigo dos Medici que são banidos de Florença em 1498. Quando eles voltam ao poder, em 1513, ele é relegado à paz do campo e é ali que escreve O príncipe, “A mandrágora”e  o nosso “Belfagor arquidiabo”.

De Florença passa-se agora a outra região, o Piemonte, que – na época de seu principal  intérprete, Matteo Bandello (1485-1561) – fazia parte do ducado de Milão, regido por Massimiliano Sforza. Matteo pronunciou seus votos aos 15 anos e serviu aos Sforza de Milão e aos Gonzaga de Mântua, tendo sido amigo de Isabella d’Este e de Francisco II da França, onde terminou seus dias como bispo de Agen. Da versão que ele escreveu de Romeu e Julieta, teria haurido Shakespeare para o seu Romeu and Juliet de 1594-95. Aqui foi escolhida a história comovente da jovem Giulia de Gazuolo. De Luigi da Porto (1485-1529), natural de Vicenza que, como Verona, fazia parte da República de Veneza, foi escolhida a versão de “Julieta e Romeu” que também se encontra em Lope de Vega, em que Julieta é a figura dominante.  Há, ainda, o frade florentino Agnolo Firenzuola (1493-1543) que se apaixonou por uma cortesã por quem abandonou o hábito e que nos deu “Uma história complicada” e Gianfrancesco Straparola (1480-1557), cujo sobrenome é o apelido de quem falava em demasia (straparlare), mas que, ao contrário, nos brinda com dois contos delicados de componente folclórica e maravilhosa. Quem, finalmente,  retoma a tradição burlesca de Il Novellino, com três causos escolhidos para esta coletânea  é o florentino Anton Francesco Doni ( 1513-1574), de quem é famosa a diatribe contra o poeta  Pietro Aretino cujos “sonetos luxuriosos” foram  brilhantemente traduzidos no Brasil por José Paulo Paes.

 

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Traduzida e Organizada pelas professoras doutoras Aurora Fornoni Bernardini e Lucia Wataghinm, essa é a primeira obra publicada do "Projeto Vozes em Tradução".

Quatro séculos de novelas italianas

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